Os Desafios: O Primeiro Amamentar até a Responsabilidade de Direcionar um Pré-adolescente.
Essa é a história da Rayssa Neves,mãe de um menino de 7 anos, onde ela conta sobre como foi ter sido mãe na adolescência e os desafios que teve desde a amamentação até a fase da pré-adolescência de seu filho.
ENTREVISTAS


Parte 1 - Primeiros Cuidados e Experiências
Quantas gestações você teve? Quais são os nomes deles e quantos anos eles tem hoje?
Uma gestação, o nome dele é João Miguel e tem 7 anos.
Você lembra como foi a sua gestação? Como foi o sentimento de sentir que seria mãe?
Eu engordei bastante na minha gestação, o João era um bebê grande, eu era adolescente, tinha 15 anos, eu lembro que as pessoas me olhavam com uma sensação de dó ou de pena, por eu ser tão jovem e estar grávida. Mas para mim eu era uma mulher grávida, nada além disso, eu sempre sonhei em ser mãe, então quando eu descobri a gravidez, não senti nenhum desespero ruim, mas uma expectativa boa. Eu não tinha pressa dele nascer, amava ter ele em minha barriga, aproveitei a cada mês, até os enjoos, aproveitei cada fase e cada mês da gestação, amava minha barriga, amava meu bebe, levei minha gravidez com muita leveza.
Eu sempre gostei de registrar fotos de várias coisas, então na minha gravidez tirava fotos de tudo, até quando ainda não tinha barriga, estava lá registrando.
Eu tinha amigas que conheci durante o processo da gestação, amigas que tenho até hoje, e lembro que elas falavam que não viam a hora do seu bebe nascer, mas eu estava tranquila, queria aproveitar aquele tempo e cada momento, nunca tive aquela ansiedade para ele nascer, pois sabia que no tempo certo ele iria nascer, e dentro de mim ele estava protegido.
Nessa época eu estava indo para a escola, e continuei indo até o final da gestação, eu tive em Setembro, então quando ele nasceu, peguei a licença-maternidade e fiquei até o final do ano sem ir, naquele ano não fui mais para a escola, mas daí no outro ano retornei, que era o meu último ano da escola. Na escola, minha mãe levava ele para eu dar de mama na hora do intervalo, o pessoal da escola adorava pegar ele no colo, brincavam com ele, os professores também eram bem acolhedores, e ele ficava comigo durante o intervalo somente, porque na sala de aula daí todos ficavam desfocados. Nessa época ele tinha 5 meses, então ele só mamava no peito, então eu tirava um pouco de leite para minha mãe ter em casa e dar para ele e também levava ele na escola nos intervalos.
Como foi o primeiro ano de vida do seu filho? Sua relação com ele? Teve rede de apoio?
A minha rede de apoio mais forte foi a minha mãe, quando ele nasceu, eu fui morar com ela, então ela dava esse apoio para gente. No primeiro ano a parte mais desafiadora no início foi a amamentação, eu sofri muito para amamentar, sangrava muito meu peito, mas eu sempre tive o sonho de amamentar. Então o pai do joão chegava, e falava para a gente comprar leite na farmácia, mas eu teimava e não queria dar fórmula, pois eu tinha muito leite, para mim não precisava comprar fórmula sendo que meu peito derramava leite, mas estava sangrando, então foi muito desafiador, pois doía muito.
Eu lembro quando ele era novinho e ele começava a resmungar quando queria mamar, eu sentava na cama ou no sofá, prendia minha mão no lado em uma coberta, e minha mãe colocava ele no meu peito, porque eu sentia tanta dor, que eu tinha medo se eu estivesse segurando ele, eu pegar e tirar ele, então eu ficava urrando até aquela dor ir amenizando enquanto ele mamava. E aí eu lembro que uma amiga me deu um bico de silicone, que a gente achou que ia ajudar, mas como eu não tinha o bico do peito, precisava ter o bico para poder encaixar, então lembro que quando ele sugou o bico de silicone saiu um pedaço, daí quando saiu aquele pedaço, dai pronto, daí já vi o céu a terra, a criação kkk.
O meu peito estava empedrado, porque tinha muito leite também, então o começo foi assim, bem sofrido os dois primeiros meses. Isso foi o mais difícil para mim, o resto foi mais tranquilo. O João sempre mamou muito bem, e sempre foi muito gordinho, então quando ele tinha 5 meses, ele era feito de dobras e papas, nem aparecia o pescoço dele. As pessoas me viam e falavam assim: será que ele não precisava fazer uma dieta, mas o menino só mamava no peito, só se em vez de eu dar mama de 3 em 3 horas, desse de 6 em 6 horas, e bem capaz que iria fazer isso.
Com 6 meses a gente começou a introdução alimentar, e ele se adaptou super bem, algumas frutas ele não gostava, mas ele sempre foi do arroz e feijão, caldo de feijão, sempre gostou. E nesse primeiro ano eu cuidei bastante da alimentação dele, ele não comia nada com açúcar, e sempre coisas mais naturais, nada de enlatados ou muito conservantes. E eu senti os frutos de ter cuidado bem da alimentação dele, pois ele sempre comeu bem as coisas.
Com 11 meses ele começou a caminhar, dar os primeiros passos, eu lembro que estava trabalhando. Eu lembro que minha mãe me mandou um vídeo dele dando os primeiros passos, e me veio uma tristeza de não estar com ele aproveitando aquele momento, mas ainda bem que minha mãe gravou e teve esse registro.
O primeiro aninho dele nós fizemos a festa do Relampago Mcqueen, eu lembro que choveu no dia e também ele chorou horrores nesse dia, ele odiou a festa dele kkk tinha várias pessoas olhando para ele, cantando, eu lembro que ele se assustou na hora do parabéns. E as pessoas falam né, porque fazer uma festa de um ano? E eu falava assim, a festa de um ano eu estava comemorando meu primeiro ano sendo mãe também, passamos por diversas coisas e fases naquele ano, os primeiros dentinhos nascendo que é uma fase mais difícil também, a primeira mordida no peito depois que sai os dentinhos kkk que doeu muito. Eu dei de mama para ele até um ano, mas o mais difícil foi a amamentação no começo mesmo, o resto lidei bem,ele foi um bebe bonzinho e dormia bem também.
Qual momento mais marcou você no primeiro ano de vida do seu filho? Lembra de alguma memória que te marcou?
Um momento legal que me marcou assim, ele nasceu bem carequinha e banguela , estava recém nascido, era a coisa mais linda. Ele gemia no berço que ficava no lado da minha cama, e sempre eu corria pra ver ele, principalmente quando eles são novinhos, e daí teve um dia que lembro até hoje que ele gemeu, mas não chorou, e eu fui até ele, ele tinha 3 meses e meio e aí ele deu um sorrisão para mim, que eu nunca tinha visto, lembro que fiquei aquele dia super feliz e emocionada. Até tirei uma foto daquele sorrisão dele.
Outra coisa que ele me marcou, ele estava com uma semana de vida, minha mãe estava trabalhando e daí ele começou a chorar, e não parava de chorar, já tinha feito várias coisas, balançado, dado mama, limpado a fraldinha já, e nada dele parar. Daí quando minha mãe chegou, contamos que ele não parava de chorar, e daí ela foi ver ele, ela disse que era frio de primeira, pegou ele e enrolou, em dois cueiros e dois cobertores, e daí nisso ele dormiu a manhã inteira. Eu fiquei admirada, e foi algo que me marcou, e quando você é mãe de primeira viagem têm muitas coisas que você não sabe e mais ainda no puerpério, onde só estamos tentando sobreviver, que é super cansativo.
Como passou a enxergar as outras mães depois que se tornou mãe?
Então eu acho que ficamos mais atentas às necessidades de outras mães, por exemplo, eu tenho amigas que têm crianças menores, e ela comentou comigo que o filho dela tem o hábito de morder as pessoas e o João teve essa fase, se a pessoa moscasse no lado dele ele dava um mordidão de machucar. Então quando nos tornamos mães, conseguimos compreender as coisas melhor, e entender a dificuldade de outras. Mas também tem coisas que percebemos que não são justificáveis, tem situações que eu vejo e penso, cara essa mãe só precisa de ajuda, essa mãe só precisa que alguém conte para ela que essa fase vai passar. Mas a gente vê as dores, as dificuldades e os desafios. Mas eu também começo a perceber algumas coisas que são negligenciadas com falta de justificativa, então começamos olhar as mães com o olhar de mãe mesmo. E perceber as coisas com o coração de mãe, que é diferente do coração de mulher, de filha, de amiga, o coração de mãe é sensível, amoroso, ele é acolhedor, inseguro. A oportunidade que eu tenho de tentar trazer segurança para uma mãe, eu tento trazer. O amor de uma mãe não tem nada que eu consiga trazer um significado palpável, pois é algo que ultrapassa várias coisas, então ter esse amor da maternidade, com certeza transforma nossa visão sobre as outras mães.
Parte 2 - Crescimento dos Filhos
Em sua fase atual da maternidade, o que você tem vivido?
O desafio de um pré-adoslecente, porque hoje em dia é mais antecipado, antes a gente se preocupava com algumas questões quando a criança tinha 10 anos, e hoje ele tem 7, e ele já ouve e vê coisas que talvez antes ele poderia saber, falar e perguntar somente quando fosse adoslescente. É a fase da independência, eu tenho sofrido um pouco, porque o João agora ele é independente, ele sabe o que quer assistir, ele já acorda e não vai mais correndo me acordar, às vezes eu acordo e já faz horas que ele levantou, ele fez o pão dele, ele está fazendo as coisas dele, então estamos passando por essa mudança de ciclo. Então para mim está sendo meio espantoso, porque o bebezinho já não é mais bebezinho, começamos a perceber na roupa, já teve caso de eu comprar uma roupa e pensar essa roupa vai servir e daí aquela roupa ficou minúscula para ele.
Porque a nossa cabeça de mãe, não acompanha o crescimento da criança, então é desafiador, para a mãe é um processo desafiador e doloroso, não gosta mais das coisas de super-heróis, não gosta mais dos copos de personagem, tem que tomar no copo de vidro. Quando vou comprar material escolar, tem que ser uma mochila cor neutra, e eu queria comprar uma mochila da patrulha canina, não dá mais, então é essas pequenas mudanças que sentimos que está indo para outro patamar o processo, mas é gostoso o desenvolvimento. O João hoje tem expressado com mais facilidade os sentimentos e opinião dele, eu vejo que ele tem essa característica de defender aquilo que ele acredita e expressar com clareza o que ele quer dizer e sabe. e isso é muito gostoso, pois nisso percebemos que ele estamos contribuindo bem para o desenvolvimento dele.
E é isso que estou vivendo, essa mistura de medo e alegria, paixão, insegurança, que acompanha a gente a maternidade a vida inteira kkk só vai mudando a fase, mas vai indo. Cada fase é gostosa, eu aproveito cada fase dele, sabendo né que vai acabar. Então algumas coisas eu vejo ele fazendo, e penso vou deixar ele fazer, pois sei que vai acabar essa fase e vou sentir falta.
Por exemplo quando ele era mais novinho, ele amava o desenho do Joãozinho, quem tem filho menorzinho provavelmente já ouviu falar, eu lembro até hoje, todos os dias ele tinha que assistir o mesmo desenho. o Joãozinho cantava assim eu fiz um OPSs, um OPISS, e ele amava aquele desenho, todo dia tinha que assistir. E hoje eu sinto falta dele assistindo esse desenho, dessa fase, porque era a fase mais piquituchinho dele kkk. Hoje ele está na fase dos bonecos, tem boneco no meu tapete, no meu sofá e as vezes ele sai durante o final de semana, e eu olho só está os bonecos ali, e eu fico pensando daqui a pouco vai passar e eu vou sentir falta igual eu sinto falta do Joãozinho.
Depois que seu filho cresceu,como foi os desafios do dia a dia com ele?
Agora ele está na fase de questionar tudo, pois ele está aprendendo as coisas e aprendendo a se expressar. Então o maior desafio hoje é deixar claro a hierarquia de mãe e filho, mas sem deixar de validar o sentimento dele. Então tudo ele questiona, tudo ele quer saber o porque, porque é assim, mas esse é o momento que ou eu paro e explico para ele de uma forma que ele consiga entender ou eu vou ser ignorante e falar para ele que é assim porque é assim, e ele vai aprender em outro lugar o porque daquilo. E isso vai gerando coisas no coração dele, que não é o meu objetivo. Alguns dias eu consigo fazer isso, outros dias não consigo, mas esse é o maior desafio que vem junto com a independência. Eles se sentem mais seguros para questionar as coisas, de perguntar sobre, mas é só uma curiosidade assim, acredito que não devemos encarar isso como algo ruim, é algo bom porque se a gente esperar que os nossos filhos sejam uma criança que fale amém para tudo que falamos, ele vai ser uma criança facilmente manipulada em qualquer lugar, então se ele não puder buscar uma resposta dentro da própria casa, ele vai fazer isso aonde? Então sempre tentamos explicar isso para ele, mas sem tirar a validação da hierarquia, e as obrigações a serem cumpridas porque você está dentro de um lar, existem pessoas responsáveis por essa casa e por você. Mas isso não tira nossa oportunidade de explicar certas coisas para ele.
Se você pudesse voltar no tempo,e voltar em uma fase específica da vida do seu filho, qual época você voltaria?
Quando ele tinha uns 2 anos e meio, porque ele era muito piquituchinho, e quando eles vão crescendo a gente vai sentindo muita falta dessas fases. Dos mini carrinhos, dos desenhos bobinhos mas que para eles era muito legal, e nessa fase ele falava na língua dele e eu fingia que estava entendendo, mas era muito gostoso.
E nessa época, era uma época bem difícil para mim, era só eu e ele, era eu que sustentava a casa, eu que comprava as coisas para ele, era só nós dois, mas ele era muito meu combustível para tudo, mamava chá na mamadeira, que depois que ele parou de amamentar ela não queria mais nenhum tipo de leite, só queria chá, então sempre tinha que ter um pacotinho de chá. Ele tinha uma bolsa do homem aranha, cheio de mini carrinhos e também com mini panelas, ele gostava de me imitar, ele amava super-heróis, o cansaço era mais físico mesmo para mim.
Mas nessa época não tinha o questionar, aí essa roupa não combina, aí mãe esse tênis não vai ficar bonito, aí essa blusa vão me zoar, hoje ele já tem isso. Então eu sinto falta disso, porque ele era um nenenzinho para mim.
Quais sentimentos você começou a ter depois que virou mãe?
Medo, porque o medo vem no pacote da maternidade, independente de que lugar você mora. A sensação de que posso fazer qualquer coisa, pois quando você é mãe você tem o sentimento de que não há nada que você não consiga resolver. Pelo nosso filho nós podemos passar por qualquer coisa, então em diversas situações que você não vê mais solução, e se fosse antes eu pensaria que não teria como eu resolver mesmo. Mas depois quando temos nossos filhos, uma luz no final do turno sempre surge, e você consegue resolver.
Como eu passei por diversas fases na maternidade, desde a minha adolescência, então muitas pessoas me menosprezam, colegas da escola ou do meu convívio, diziam: a eu só quero engravidar depois que eu terminar os meus estudos e por aí vai, mas aquilo não era um problema para mim. Se eu tivesse por exemplo com 23 anos, grávida, estudando, eu só seria uma mulher grávida estudando em minha cabeça, então para mim não era uma coisa surreal. Então eu precisei lidar muito com as críticas, e comentários desagradáveis, pois as pessoas julgam muito. Mas com o objetivo de tentar se sentir melhor com o outro, as pessoas geralmente querem tentar mostrar que são melhores.
Então depois com o João crescendo eu segui fazendo minhas obrigações, estudando de manhã e trabalhando a tarde, a amamentação ficou exaustiva, pois quando comecei a trabalhar, tudo que ele não mamava durante o dia, ele queria mamar a noite, porque o mamã depois que a criança já come, o mama é emocional. Então ele mamava muito durante a madrugada, eu lembro que emagreci 30kg, porque a minha vida era só dar mama kkk. Então tirei ele do mama com um ano. Depois nós ficamos morando sozinhos, e então passamos por diversas situações juntos, e eu sempre falei para ele “João independente do que a gente enfrentar, a mamãe vai dar um jeito em qualquer coisa”, então o sentimento de conseguir fazer qualquer coisa depois da maternidade é muito real.
Tinha uma época em que comíamos só hambúrgueres, no começo quando moramos sozinhos, era hambúrguer e ovo, no café, na janta e no almoço, já por ser mais barato que a carne né. E eu lembro que pensava nossa quando ele crescer vai odiar hambúrguer, mas não, hoje ele ama hambúrguer. Então a criança ressignifica tudo, para eles tudo é mágico, a gente sabe que quando éramos criança não viamos problema em nada, tudo era mágico, tudo era perfeito, mas é que nossos pais fazia ser perfeito. Então é essa sensação que a maternidade nos dá, o poder de fazer tudo perfeito.
Agradecimento
Agradecemos a participação da Rayssa Neves neste projeto, pois sabemos que com sua história contada aqui muitas mães irão se identificar com sua trajetória e conhecer mais sobre as experiências da maternidade.
A arte realizada inspirada na história presente aqui foi “Mudança de Ciclos”, nesta obra quisemos retratar o crescimento de seu filho João, um menino pré-adolescente e que já passou por diversos ciclos, principalmente a de amar brincar com super-heróis.
Entrevistada: Rayssa Neves, 24 anos, casada e mãe de um menino.
Entrevistas
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Um projeto cultural sobre arte e maternidade.
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